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Sexta-feira, 26 de abril de 2024 movimento ciência cidadã

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SISTEMA DE PLANTIO DIRETO DE HORTALIÇAS * Método de transição para um novo modo de produção

SISTEMA DE PLANTIO DIRETO DE HORTALIÇAS * Método de transição para um novo modo de produção

Políticas Públicas

Autor(es): Organizadores: Jamil Abdalla Fayad, Valdemar Arl, Álvaro Luiz Mafra, Darlan Rodrigo Marchesi

A agroecologia no Brasil é compreendida enquanto ciência, prática e movimento. Estas três dimensões devem se articular para darmos conta da difícil tarefa de transformar os atuais sistemas agroalimentares. A agroecologia é, desde sua origem, contra hegemônica, inclusive em sua dimensão científica, e procura reconhecer os saberes tradicionais em seus processos pois, como ensinou Paulo Freire, o conhecimento deve ser construído a partir do diálogo contextualizado na realidade. O diálogo de saberes é importante, pois a proposta agroecológica pressupõe uma nova forma de se relacionar com a natureza, com a sociedade e com todas as inter-relações culturais existentes em uma trama de conexões. Por isto, para a agroecologia as estratégias de produção do conhecimento, ensino e aprendizagem, para além das estratégias hegemonicamente constituídas, são importantes. O diálogo de saberes é a base para a ecologia de saberes, entendida por Santos (2010)1 como um conjunto de epistemologias que respeita a diversidade. Enquanto ciência, a agroecologia aponta para o desenvolvimento de sistemas agroalimentares sustentáveis, para o que há necessidade da construção de conhecimentos contextualizados, o que requer metodologias e posturas diferenciadas dos envolvidos. O Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), cujo trabalho foi desenvolvido em Santa Catarina, tem como base de sua práxis a articulação entre movimento, prática e ciência. A experiência da Lavoura de Estudos e o contrato de trabalho, em contraposição às unidades de demonstração clássicas, promove o encontro entre o conhecimento popular e técnico-científico, mediado pela interpretação do desenvolvimento da planta, objetivando a promoção da sua saúde e da maior complexidade do sistema, em uma inspiração “freiriana”, ou seja, a partir da ação-reflexão-ação. A pesquisa-ação exercitada no desenvolvimento do SPDH não é um método ou técnica de coletar dados, mas um processo de reflexão crítica sobre a realidade com vistas a transformá-la, por meio de ciclos de ação-reflexão-ação. A pesquisa-ação permite construir conhecimentos científicos articulados com o conhecimento dos camponeses, fato necessário para encontrar as saídas da encruzilhada em que a tal modernização da agricultura nos colocou (IAASTD, 2009).2 Para sair desta encruzilhada, comumente, nos referimos aos processos de transição agroecológica. Estes podem ser entendidos “como uma sequência de estados que se transformam”, exigindo mudanças na filosofia, nas práticas de campo, no manejo agrícola, no planejamento e na comercialização. Um dos desafios dessa transição é a ampliação das propostas agroecológicas para toda a agricultura familiar e camponesa, contida no método do SPDH. A proposta de transição contida nessa obra, é um processo dialético de absorver e negar as atuais teorias, ciências e tecnologias que, de certo modo, compõem o velho sistema de produção agrícola. Cada passo dessa transição, realizada coletivamente, é a ruptura e a superação do velho, sendo ela mediada pela prática da construção de outro modo de produzir alimentos de verdade para toda a sociedade, assegurando a unidade entre teoria e prática. O princípio técnico-científico central nessa transição é a promoção de saúde da planta, no qual promove-se o encontro das contradições entre dependência e autonomia ao baixar custos de produção com aumento de produtividade, diminuindo até eliminando o uso de agroquímicos. Essa descoberta apreendida durante a transição vai transformando a consciência comum em práxis. A proposta apresentada pelo livro é robusta, relevante e contribuirá de fato para a transição agroecológica e para a construção de sistemas agroalimentares sustentáveis. No seu interior encontramos força para aglutinar a agricultura familiar e camponesa em um movimento que fortalece a agroecologia, pois permite que as famílias entrem com confiança no processo de transição agroecológica. A proposta pode também viabilizar o cultivo saudável de hortaliças em áreas maiores, caso seja de interesse. Esperamos que a proposta do SPDH seja debatida, compreendida e ajustada pelos movimentos sociais populares e agroecológicos do Brasil. Estes são de fato os responsáveis pelas transformações necessárias na sociedade, inclusive aquelas dos sistemas agroalimentares que tanto precisamos. Tais transformações virão a partir de nossas práxis e com a contribuição da ciência. Portanto, a articulação entre movimento, ciência e prática, como exercitada no SPDH, contribui para acelerar os processos de transformações que tanto desejamos e necessitamos. O SPDH contribui também para afastar o risco da agroecologia ser praticada por pequena parcela de agricultores e a produção de alimentos ficar restrita a nicho de mercado, deixando de atender a classe trabalhadora com alimento saudável. Professora Irene Maria Cardoso Departamento de Solos Universidade Federal de Viçosa (UFV) Coordenadora do Grupo de Trabalho Construção do Conhecimento Agroecológico da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) Presidente da ABA gestão 2014-2017

Tipo: Publicação

Idioma: Português Br

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