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Terça-feira, 15 de outubro de 2024 movimento ciência cidadã

manifesto ciência cidadã

A Pesquisa é um bem público Pertence ao público a escolha de seus benefícios

Vivemos uma mudança de natureza dos riscos, das disparidades e dos perigos criados pelos modos dominantes de produção e de consumo. A globalização do livre mercado acentua as ameaças e pretende submeter a pesquisa e o desenvolvimento técnico às exigências do capital. Estes últimos anos, a acumulação de crises provocada por uma sociedade inspirada em uma única visão produtivista mostrou a necessidade de levar em conta outros interesses e riscos do que os até então definidos pelos atores tecno-industriais. Podemos citar algumas delas, entre muitas outras:

  • a fome endêmica, a insegurança alimentar; a agricultura intensiva e a exclusão dos pequenos agricultores, camponeses e comunidades tradicionais;
  • as enfermidades endêmicas e epidêmicas;
  • as explosões e radiações nucleares (Chernobyl e Fukushima);
  • as mortes por amianto;
  • a artificialização da alimentação animal e a enfermidade da "vaca louca"
  • os transgênicos (OGM);
  • os agrotóxicos;
  • as clonagens;
  • o aquecimento global;
  • as mudanças climáticas e migrações forçadas;
  • a erosão da biodiversidade;
  • a rarefação de águas e as estiagens severas;
  • as inovações tecnológicas em benefício dos mercados (biologia sintética, nanosomas, robotização);
  • a superexploração dos recursos naturais do planeta.

Nosso olhar sobre os embates a respeito do conhecimento evoluiu. Frequentemente surge a desconfiança dos cientistas e interrogações sobre suas responsabilidades, sendo estas o sintoma de um fenômeno mais profundo.

Constata-se a crescente contestação da ciência e da peritagem, a renovação das mobilizações sociais em vários países do mundo e, consequentemente, numerosas iniciativas de envolvimento de profanos na pesquisa dos experts ou ainda a vigilância do público no que se refere à aplicação das descobertas científicas que conduziram a um excessivo poder da ciência e de suas instituições.

Diante da mercantilização dos conhecimentos e da matéria viva, da desconsideração do saber popular, diversas mobilizações e iniciativas desencadearam um sobressalto democrático e um novo pacto social para uma ciência cidadã, responsável e solidária.

Longe de se reduzir a um "aumento das crenças irracionais" ou a uma falta de informação ou de "cultura científica", pesquisadores, técnicos e movimentos sociais que reconhecem a necessidade da democratização da Ciência, afirmam que uma ciência para todos deve se construir com todos, em um diálogo com os conhecimentos outrora desvalorizados.

Na verdade, a questão não é nova. Estamos convencidos da existência de profundas interrogações sobre o papel das ciências nas opções de desenvolvimento. Elas aparecem nos debates recentes sobre o progresso, o desenvolvimento, o crescimento/decrescimento,, o consumo, a saúde, o trabalho, o peso dos objetivos econômicos no curto prazo na definição das políticas científicas, e o desvio do conceito de inovação (um conceito a ser reinventado?) sempre sob o mais implacável rigor científico. Os fatos avassaladores relacionados às desregulamentações monetárias destes últimos anos produzem um efeito ampliado sobre essas interrogações. Todavia, estes debates estão ainda marcados por um enfoque pontual, parcial, limitado.

É chegado o momento de posicionarmos-nos diante do lugar que ocupam as ciências e tecnologias para atuarmos neste universo de crise global. Ambiental mas também societal, cultural e econômica que caracteriza o mundo atual.

Esta posição deve contar com as reflexões e análises das ciências humanas e sociais, críticas e não instrumentalistas. A exclusão de suas análises e avaliações não é mais concebível na reorientação da inovação e mais fundamentalmente das ciências e tecnologias. Excluir a função de ser apenas legista do passado, consolidar a posição de legisladores do futuro.

Abolimos a eliminação dominante das controvérsias que, contrariamente, devem ser estimuladas como formas de resistência ao determinismo da inovação e da tecnociência.

QUEREMOS PROPOR UMA ASSOCIAÇÃO QUE POSSA MOTIVAR ESTES DEBATES EM VISTA DE INTRODUZIR A QUESTÃO DO LUGAR DA CIÊNCIA NA SOCIEDADE, NO LONGO TERMO. De obter a ampla expressão de distintos pontos de vista sobre o diagnóstico e sobre as ações que devemos conceber em direção da opinião pública, das instituições e do poder político.

Uma associação para uma ciência cidadã deverá estimular e dar continuidade a estes debates na esfera local, regional e nacional, com a devida importância a ser dada na esfera internacional e com a importância que lhe é devida no contexto da globalização.

Reconhecemos a importância em promover um debate livre, mas rigoroso, assumido por um amplo coletivo de pessoas identificadas com a cultura científica incluindo cientistas, cidadãos e movimentos sociais.

A elaboração de proposições somente terá sentido se a fizermos em uma estrutura coletiva para definir um marco geral, apontando para o lugar das ciências no seio da sociedade, criando dispositivos permanentes que possam basear-se em uma coordenação democrática para programar uma verdadeira cultura científica a serviço de uma sociedade mais participativa e democrática que possa usufruir dos resultados da ciência e da pesquisa.

ASSINATURAS

  • Adriana Margutti (NEAD/MDA)
  • Alfio Brandenburg (UFPR/Sociologia)
  • Álvaro Simon (EPAGRI/SC)
  • Ana Carolina Brolo Almeida (Terra de Direitos)
  • Andrea Machado Comunça (UFC)
  • Ângela Duarte Ferreira (UFPR/MADE)
  • Antônio Andrioli (UFFS)
  • Artionka Capiberibe (UNFESP)
  • Aziz Abou Hatem (EPAGR/SC)
  • Carlos Gustavo Tornquist (Depart. Solos/UFRGS)
  • Carlos Mielitz (PGDR/UFRGS)
  • Carolina Burle de Niemeyer
  • Célio Haverroth (EPAGRI/SC)
  • Celso C. Waldemar (Prefeitura de Porto Alegre)
  • Cimone Rozendo de Souza (UFRN)
  • Claudia Jobb Schmitt (UFRRJ/CPDA)
  • Conceição de A.Carrion (UFRGS)
  • Corentin Hecquet (ULg)
  • Cristina M. Macêdo de Alencar (UCSAL)
  • Daniela Pacífico (CPDA/UFRRJ)
  • Darci Frigo (Terra de Direitos)
  • Debir Soares Gomes (UFC)
  • Deise Lisboa Riquinho
  • Delma Pessanha Neves (UFF/UFOPA)
  • Ellen F. Woortmann (UNB)
  • Eduardo Kroeff M.Carrion (UFRGS/Direito)
  • Eli Napoleão de Lima (UFRRJ/ CPDA)
  • Elimar Pinheiro do Nascimento (UNB/CDS)
  • Enrique Ortega (UNICAMP /Engenharia Alimentos)
  • Fabio Dal’Soglio (UFRGS/PGDR)
  • Fábio Beck (UFRGS/PGDR)
  • Flávia Charão Marques (UFRGS/Agronomia)
  • Gabriela Coelho de Souza (UFRGS/PGDR)
  • Gabriel Bianconi Fernandes (ASPTA)
  • Gema G. S. L. Esmeraldo (UFC)
  • Geraldo Deffune de Oliveira (UFFS/PR)
  • Ghislaine Duque (UFCG-UNIVASF)
  • Gilberto Bevilaqua (EMBRAPA/CPACT)
  • Gilles Ferment (NEAD/MDA)
  • Glauco Schultz (PGDR/UFRGS)
  • Gutemberg Armando Guerra (UFPA)
  • Inês Claudete Burg (UFFS)
  • Iraildes Caldas Torres (UFAM)
  • Isaura Isabel Conte (UFRGS/MMC)
  • Islândia Bezerra F.da Costa (UFPR/ Nutrição)
  • Jalcione Almeida (UFRGS /PGDR)
  • Janaina Sabino (UNB)
  • Janise B. Dias (UFMG)
  • João Carlos Canuto (EMBRAPA-CNPMA)
  • João Daniel Dorneles Ramos (PPGAS/UFRGS)
  • Joel Henrique Cardoso (EMPRAPA/CPACT)
  • João Guilherme Abrahão (MDA/NEA)
  • Jorge Quillfeldt (UFRGS/Neurociências)
  • Jorge Hausen (CPRM)
  • José Maria Gusman Ferraz (PPGADR/UFSCar) José Antônio Costabeber (UFSM)
  • Josefa Salete Cavalcanti (UFPE/PPgs) Leida Farias (MDA/NEA)
  • Leonardo Melgarejo (INCRA/RS)
  • Leonir Amantino Boff (UNEMAT/UFRGS)
  • Lovois de Andrade Miguel (PGDR/UFRGS)
  • Luiz Alberto Ambrosio (Instituto zootecnia- Nova Odessa/ SP)
  • Luiza Chomenko (Fundação Jardim Botânico RS)
  • LuizAntonio Norder (PPGADR – UFSCar)
  • Magda Zanoni (Universidade Paris Diderot)
  • Maíra M. Martins (PUC-Rio de Janeiro)
  • Manoel Baltasar B. da Costa (UFSCar-SP)
  • Marciano Toledo (Movimento dos Pequenos Agricultores)
  • Márcio Caniello (UFCG)
  • Maria Cristina Benez (EPAGRI/SC)
  • Maria de Fátima G. Brandalise (NEAD/MDA)
  • Maria José Carneiro (UFRRJ/CPDA)
  • Maria Virginia de A.Aguiar (UFRPE)
  • Mariane Carvalho Vidal (EMBRAPA Hortaliças)
  • Marilda A. Menezes (UFCG)
  • Maristela Dal Moro (UFRJ)
  • Maristela Simões do Carmo (UNESP)
  • Miriam Fernandes (UFRGS/Biblioteca)
  • Marijane Lisboa (PUC/SP-Sociologia)
  • Marlise Reinehr Dalforno (UFRGS/PGDR)
  • Marta Marque Lopes (UFRGS/Enfermagem)
  • Naira Lápis (UFRGS/Sociologia)
  • Olga Falceto (UFRGS/Medicina)
  • Osmar Tomaz de Souza (PUCRS/PPGE)
  • Oswaldo H. Silva (UFPR/ Sociologia)
  • Patricia dos Santos Pinheiro (UFRRJ/CPDA)
  • Paulo Brack (Botânica UFRGS)
  • Paulo Kageyama (USP/ESALQ)
  • Paulo Nederle (UFPR/MADE)
  • Pedro Boff (Universidade do Planalto Catarinense)
  • Pedro Martins (SUFPA)
  • Ramonildes Alves Gomes (UFCG)
  • Regina Chaloub (SEC/Rio de Janeiro)
  • Regina S. Bruno (UFRRJ/CPDA)
  • Renata Menasche (UFPe/UFRGS-PGDR)
  • Renato C. Nascimento (CAPES)
  • René Louis de Carvalho (UFRJ/Economia)
  • Ronaldo de Almeida (UNICAMP)
  • Ronessa B. de Souza (EMBRAPA Hortaliças)
  • Rubens Nodari (UFSC/ Instituto Genética)
  • Sérgio Roberto Martins (UFSC)
  • Solange Teles da Silva (UPM/SP)
  • Sonia M. P. Bergamasco (UNICAMP/FEAGRI)
  • Suzana Cesco (CPDA/UFRRJ)
  • Suzi Barleto Cavalli (UFSC)
  • Tatiana E. Gerhardt (Escola Enfermagem UFRGS)
  • Tomas T. Tarquínio (Senado Federal)
  • Ulisses Pereira de Mello (UFFS/PR)
  • Vera Lucia S. Botta (UNICRA)