documento
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS TÓXICOS SOBRE O SISTEMA REPRODUTIVO, HORMONAL E CÂNCER PARA SERES HUMANOS APÓS O USO DO HERBICIDA 2,4-D
Ética
Autor(es): Karen Friedrich Departamento de Farmacologia e Toxicologia Núcleo Técnico de Saúde e Ambiente INCQS/FIOCRUZ
Os modos de utilização indicados na monografia do ingrediente ativo 2,4-D permitem que ele possa estar presente em diversas matrizes como ar, água, solo, contaminando diretamente as pessoas que residem próximas a áreas onde ele é pulverizado. O tipo de pulverização autorizada não está descrita na sua monografia, disponibilizada no sítio eletrônico da ANVISA (ANVISA, 2014). O uso preconizado é como herbicida, podendo ser aplicado nas fases de pré- e pós-emergência das plantas infestantes nas culturas de arroz, aveia, café, cana-de-açúcar, centeio, cevada, milho, pastagem, soja, sorgo e trigo (ANVISA, 2014). Desse modo, esse agrotóxico contamina diretamente as lavouras e, consequentemente, produtos derivados dessas culturas, incluindo aqueles que passam por algum tipo de processamento. Além disso o 2,4-D pode contaminar solo, ar e água, que atingem diretamente o homem e espécies de animais em contato com essas matrizes, mas também outros alimentos cuja cadeia produtiva esteja contaminada por esse herbicida. Deve-se destacar que, como seu uso é preconizado em pastagens, pode contaminar a carne e o leite e outros derivados de animais que sejam criados nesses locais. Apesar disso, não foram encontrados resultados de monitoramento do 2,4-D nesses alimentos (i.e. alimentos processados, de origem animal ou vegetal) realizados no Brasil que possam dar um panorama do perfil de contaminação dos alimentos consumidos para esse agrotóxico. Todavia, alguns estudos internacionais tem mostrado que seres humanos em diferentes faixas etárias, incluindo crianças, e através de diversos modos de exposição (ambiental, residencial, ocupacional, dietética) apresentam níveis detectáveis desse agrotóxico no organismo (MORGAN et al, 2008; WILSON et al, 2010). Além disso, deve-se destacar que a exposição de gestantes e lactantes, mesmo que não sejam trabalhadoras agrícolas, podem se expor ao 2,4-D, ampliando os grupos de pessoas expostas. Como exemplo, em um estudo realizado na Polônia, esposas de fazendeiros apresentaram níveis detectáveis de 2,4-D na urina (JUREWICZ et al, 2012). As mulheres não estavam envolvidas na atividade de pulverização de agrotóxicos, mas podem ter se contaminado através do contato com superfícies ou roupas contaminadas dos maridos e pelo ar contaminado através da aplicação de agrotóxicos próxima a residência. Com isso, mesmo que não existam estudos realizados com produtos consumidos no mercado interno ou com pessoas expostas no território brasileiro, esses estudos internacionais demonstram que a população brasileira, onde o consumo de agrotóxicos está entre os maiores do mundo, está sob elevado de risco de manifestar todos os efeitos tóxicos decorrentes do uso do 2,4-D descritos na literatura científica. Para a avaliação da segurança ou do risco da exposição ao 2,4-D dois importantes aspectos devem ser levados em consideração: a via de exposição e o momento da vida em que o contato com o agrotóxico ocorre. Quanto a via de exposição, as fontes de contaminação citadas anteriormente, permitem concluir que o 2,4-D pode ser absorvido, ou seja, penetrar nos organismos das pessoas através da respiração (via inalatória), da pele (via dérmica), da ingestão de água ou de alimentos contaminados, incluindo o leite materno (via oral), ou através da placenta. Além disso, as pessoas podem ser expostas ao 2,4-D em diferentes momentos da vida, como intra-utero, lactação, infância, adolescência, fase adulta e senescência. Esses dois aspectos devem ser avaliados em conjunto, pois os efeitos tóxicos podem ter tipologia ou magnitudes distintas, dependendo da via e da idade em que a exposição ocorra.
Tipo: Publicação
Idioma: Português Br
Baixe aqui